O que querem as vítimas de violência de gênero

A violência de gênero assume as mais variadas formas, das mais sutis às mais explícitas (já falamos das diversas facetas da violência contra a mulher aqui). As vítimas possuem diferentes de formas de lidar com a dor e as marcas da violência, sejam elas físicas, morais ou psicológicas. Nem todas as vítimas querem a mesma […]

A violência de gênero assume as mais variadas formas, das mais sutis às mais explícitas (já falamos das diversas facetas da violência contra a mulher aqui). As vítimas possuem diferentes de formas de lidar com a dor e as marcas da violência, sejam elas físicas, morais ou psicológicas. Nem todas as vítimas querem a mesma coisa com relação ao seu agressor: há quem queira que ele seja preso, há quem queira proteção, há quem queira uma reparação civil, há quem queira apenas que sua voz seja ouvida e quem queira alertar outras mulheres. Em comum, o que elas querem é deixar de ser vítima.

Há alguns dias, Su Tonani, a figurinista que foi vítima de assédio sexual pelo ator José Mayer (comentamos sobre o caso aqui) publicou um apelo no blog #agoraéquesãoelas: “Me deixem deixar de ser vítima, me deixem voltar a ser eu”.

Após esclarecer algumas especulações lançadas pelos meios de comunicação, Su afirmou que os incessantes questionamentos sobre a sua dor a fazem revivê-la. Ela relatou estar sendo revitimizada:

“Vítima de profissionais exibicionistas. Vítima da narrativa produzida por tabloides irresponsáveis, das versões misóginas da violência que vivi que tornam suspeito meu gesto de denúncia, bem como a sororidade das que me apoiaram. E tenham certeza: estou sendo revitimizada pelo machismo que tenta me enfraquecer, me roubar a coragem de lutar. Mas cada vez que o conteúdo que questiona minhas razões é compartilhado, não sou só eu que estou sendo subjugada. Toda vítima está sendo coagida. Reprimida. Oprimida. Todas as que ainda não se manifestaram, em qualquer contexto, no país todo, duvida de si. E cogita seguir calada.”

Su foi uma vítima que optou por não prestar queixa contra o agressor e, após a omissão da emissora quanto às suas denúncias, optou por torná-la pública. A escolha da vítima por tomar uma atitude e pelo caminho a seguir nunca é simples. Su relatou o seu medo:

“Sabe por que dá tanto medo de delatar um abuso? Porque nossa cultura machista culpa a mulher, a vítima, pela violência vivenciada. É isso que corre as redes. É o que passa pelo boca a boca. É o que passeia por nossos aplicativos de relacionamento. É o que é impresso nos jornais. A história da mulher sedutora, agora passional e vingativa. Da mulher que mereceu. Da amante rejeitada.”

Ainda que tenha optado por não prestar queixa, sua escolha não foi respeitada e ela foi intimada pela polícia a prestar depoimento.

Não era seu objetivo que Mayer sofresse uma sanção penal, tampouco queria qualquer tipo de reparação cível. Com o pedido de desculpas da Rede Globo e a carta de José Mayer, ela sentiu que teve a justiça que desejava, trouxe voz a outras mulheres, ajudou a empoderar outras vítimas. Seu objetivo era “sair da invisibilidade, romper o silenciamento imposto”. Sua posição deve ser respeitada.

Para cada vítima, o caminho apropriado é diferente. Ela pode querer ou não se submeter ao sistema formal de justiça, buscando alguma forma de reparação criminal ou cível, pode também buscar formas extrajudiciais de resolução do conflito. É sempre bom consultar um advogado para discutir as alternativas possíveis. Ao advogado cabe orientar, tendo sensibilidade para respeitar a dor e as escolhas de cada vítima. O Valente Reis Pessali é um escritório especializado em assessorar e acompanhar vítimas de violência de gênero, respeitando a individualidade de cada uma.

Equipe VRP

Os artigos produzidos por advogados e advogadas especialistas em diversas áreas do direito que colaboraram com a produção dos conteúdos do Blog da VRP Advocacia e Consultoria.